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David Hume foi um filósofo, historiador, economista e ensaísta escocês, figura central do Empirismo Britânico, ao lado de Locke e Berkeley. Contudo, ele levou o empirismo às suas consequências mais radicais, demolindo a confiança na razão, na causalidade, na identidade pessoal e até na própria ciência como certeza.
Apesar disso, Hume não era um niilista: sua filosofia é um chamado à modéstia epistemológica e à valorização da experiência cotidiana.
Tratado da Natureza Humana (A Treatise of Human Nature, 1739)
Sua obra filosófica mais completa e profunda.
Investigação sobre o Entendimento Humano (An Enquiry Concerning Human Understanding, 1748)
Uma versão mais acessível e lapidada de suas ideias centrais.
Investigação sobre os Princípios da Moral (An Enquiry Concerning the Principles of Morals, 1751)
Diálogos sobre a Religião Natural (Dialogues Concerning Natural Religion, 1779)
Hume acreditava que todo conhecimento humano deriva da experiência sensível. Mas ao examinar isso de perto, ele percebeu que mesmo nossos conceitos mais “óbvios” (como causalidade, eu, alma, Deus) não têm base empírica segura.
Para Hume, não percebemos a causa em si, apenas a sucessão de eventos. Quando vemos uma bola bater em outra, não percebemos uma “força” mágica de causa e efeito — apenas um evento seguindo o outro.
A ideia de causalidade é fruto do hábito mental, e não de uma necessidade real no mundo.
Esse pensamento destrói a base de muito do pensamento científico moderno, que pressupõe relações causais como evidentes.
Quando procuramos o “eu” em nossa consciência, segundo Hume, só encontramos uma coleção de percepções momentâneas — sensações, pensamentos, memórias.
O “eu” é apenas uma ficção útil, não uma substância imutável.
Hume inverte a tradição racionalista ao afirmar que a razão não governa o ser humano — ela apenas serve aos desejos e paixões.
“A razão é, e deve ser, escrava das paixões.”
A moral, portanto, não nasce da lógica ou da revelação, mas da empatia, do sentimento e da experiência comum.
Hume não defende o ceticismo absoluto, mas um ceticismo prático e filosófico. Não podemos justificar logicamente nossas crenças básicas — mas ainda assim vivemos com elas. Essa tensão é a essência de sua filosofia.
Hume atacou argumentos tradicionais da existência de Deus, como o argumento do desígnio (ou “teológico”). Nos Diálogos sobre a Religião Natural, apresenta um debate entre três personagens, revelando as inconsistências lógicas do teísmo tradicional.
“O milagre é a violação das leis da natureza — e a experiência é sempre contra os milagres.”
Hume influenciou profundamente:
Immanuel Kant, que declarou:
“Hume me despertou do sono dogmático.”
A ciência moderna, ao propor um modelo não-dogmático de observação e inferência.
A filosofia da mente e da linguagem, ao antecipar temas sobre identidade, percepção e cognição.
O positivismo lógico, ao insistir em critérios empíricos para o sentido dos enunciados.
“Não é contrário à razão preferir a destruição do mundo à arranhadura do meu dedo.”
“A beleza das coisas existe no espírito de quem as contempla.”
“Todos os sistemas da filosofia devem ser derrubados e reconstruídos do fundamento.”
David Hume nos obriga a olhar para o abismo da incerteza — não com desespero, mas com coragem filosófica. Sua mensagem não é a de quem destrói por prazer, mas a de quem quer nos libertar das ilusões do absolutismo racional e teológico. Ele oferece uma filosofia de lucidez, de humildade intelectual e de humanidade.
Com Hume, aprendemos que não saber tudo não é fraqueza — é honestidade.